O dia que São João Paulo II esteve em Campo Grande

22 de outubro. Este foi o dia escolhido pela Igreja para fazer memória do saudoso “Papa Peregrino”, agora, São João Paulo II. A data foi estabelecida pelo papa Bento XVI por simbolizar o dia em que Karol Wojtyla celebrou sua primeira missa como Pontífice, em 1978, iniciando seu pontificado. Nascido na Polônia em 1920, Karol entrou no Seminário de Cracóvia, de forma clandestina, pois seu país acabara de ser invadido por comunistas. Quatro anos depois foi ordenado e no ano de 1958, foi nomeado bispo auxiliar da mesma Cracóvia que o acolheu no seminário. Devoto exemplar de Maria, escolheu como lema episcopal, a conhecida expressão ” Totus Tuus”, de São Luís Maria Grignion de Montfort. Em 1964 foi nomeado Arcebispo e três anos mais tarde, foi criado cardeal pelo Papa Paulo VI. Em 1978, foi o escolhido do Espírito Santo, que iluminou os cardeais que o elegeram, fazendo dele o Papa que levaria a Igreja ao terceiro milênio, governo-a por 26 anos.

De coração e personalidade simples, João Paulo II, uma de suas maiores características, era o diálogo. Foi assim que ajudou a vencer o comunismo na Polônia, aproximou a Igreja de outras religiões e percorreu o mundo anunciando o amor de Cristo ressuscitado! Foi assim que ele percorreu 129 países durante seu pontificado. Esteve no Brasil por três vezes: em 1980, 1991 e em 1997. João Paulo II, esteve também na cidade morena, Campo Grande, onde permaneceu por 23 inesquecíveis horas. Aqueles dias 16 e 17 de outubro de 1991, permanecerão na memória de muitas pessoas que viram, ouviram e até tocaram no “Peregrino do Amor”.

João Paulo II foi recebido na Base Aérea de Campo Grande pelo então Arcebispo, hoje emérito, Dom Vitório Pavanello. O trajeto até a Casa da Missão Salesiana, onde o Papa descansaria para suas atividades no dia seguinte, fez da comitiva papal uma verdadeira carreata. No dia seguinte, Karol Wojtyla visitou o Hospital São Julião e ali, ouviu dos pacientes poesias, recebeu abraços e deixou também suas palavras: “o exemplo de Cristo nos recorda, que todo o cristão deve viver de rosto voltado para os outros homens, olhando com amor para todos e cada um dos que o rodeiam, para a humanidade inteira. Quando se ama de verdade, não só afetivamente, mas “com obras e em verdade” (1 Jo 3, 18), obter-se-ão frutos de bem e de bondade que não deixarão de receber a recompensa divina. Como o Amor é inteligente, cria iniciativas como esta do Hospital São Julião, que procura não só recuperação do doente e sua inserção na sociedade, mas também aproximá-lo de Deus, como está a indicar a Igreja dentro das suas dependências. Por isso, abençoo de coração este Hospital e também, o Posto de Saúde São Francisco, do Bairro Nova Lima, onde muitos dos egressos são atendidos. Abençoo também os benfeitores e colaboradores das duas obras, os do Brasil e da Itália. Desejo pedir ao Todo-Poderoso uma bênção especial para os frades franciscanos e as Irmãs Salesianas, nas pessoas de Frei Hermano Hartmann e Irmã Sílvia Vicélio, baluartes dessas obras desde o começo de sua reestruturação, com mais de 20 anos de trabalho contínuo, fazendo surgir praticamente dos escombros um caminho de esperança para os que nestes locais vêm buscar a vida e a saúde.”

Saindo dali, o Papa foi encontrar-se com uma multidão que o aguardava na Praça do Papa. A Santa Missa que ele celebrou em Campo Grande reuniu mais de cem mil pessoas – 1/4 de sua população total. Ali, o Papa proferiu belas palavras sobre a família, que é a base da sociedade. Saudando os cidadãos de Campo Grande, convidou-os a uma reflexão: “Queridos irmãos e irmãs de Campo Grande, do Mato Grosso do Sul e do Brasil! Um célebre brasileiro, o escritor Rui Barbosa deixou-nos esta frase muito significativa: “A pátria é a família amplificada. Multiplicai a família e tereis a pátria”. Desta bela cidade que construístes, desta região privilegiada do Brasil onde morais, com seus campos imensos, sua terra fértil, com esta maravilha da natureza que é o Pantanal matogrossense, quero lançar hoje um veemente apelo a toda a Igreja no Brasil: a família deve ser vossa grande prioridade pastoral! Sem uma família respeitada e estável não pode haver um organismo social sadio, sem ela não pode haver uma verdadeira comunidade eclesial!”, disse. João Paulo II, ressaltou ainda os males do divórcio, das práticas anticoncepcionais e do aborto. Segundo ele, estas práticas estão “produzindo um esfacelamento da instituição famíliar. As uniões ilícitas muito freqüentes na sociedade brasileira, a perda dos valores cristãos, afetados por uma Publicidade permissiva e as agressões de certos meios de comunicação social – tudo isso está obscurecendo a visão cristã do amor humano. A falta de uma ética que defenda a dignidade do ser humano nos ambientes escolares, nos Cursos preparatórios para o ingresso nas Universidades e nas mesmas Universidades, vai privando a juventude do conhecimento da Lei de Deus e de suas conseqüências. Enfim, a falta de uma autêntica formação espiritual e moral e um desvio do ensinamento doutrinário, para dar preferência aos problemas sociais, estão criando um progressivo esvaziamento do conteúdo da fé, tornando mais atraente a participação em “seitas” das mais distintas denominações.”

Por fim, o Papa falou aos leigos na Catedral Santo Antônio, onde permaneceu com o discurso a favor dos valores da família e do matrimônio. O papa também defendeu o valor do leigo na sociedade, seu engajamento e, já naquela época, chamou atenção para um discurso que até hoje é um anseio, não só dos Cristãos, mas de todo o povo brasileiro: “O que desejo, acima de tudo, ao falar assim, é lançar um forte apelo à responsabilidade moral dos detentores do poder público, em seus diferentes níveis, e de todos os homens de boa vontade, católicos ou não, para que criem, dentro das suas possibilidades de atuação, condições econômicas e sociais que garantam a dignidade da vida humana e da família. Pode-se fazer muito e deve-se fazer muito para reverter essa situação. É muito séria a obrigação que tendes, especialmente vós, de promover corajosamente os valores cristãos do casamento e da família. Começai pelos vossos próprios lares, a fim de serdes vós mesmos “luz do mundo” e sal que preserva da corrupção.” Nesta mesma ocasião, o Papa sagrou aquele tempo como a Sé Catedral de Campo Grande, dedicando-a Nossa Senhora da Abadia e Santo Antônio, padroeiros da Arquidiocese de Campo Grande.

Depois de horas tão intensas, os campo-grandenses se despediram do Papa João Paulo II, que embarcou para Florianópolis, seguindo seu curso, mas deixando transformados os corações daqueles que ouviram suas palavras e acolheram o Cristo. O site do Vaticano, conserva os textos de sua santidade para apreciação. Você pode conferir os discursos do Papa na Íntegra clicando sobre os links:

Caio Lima – Arquidiocese de Campo Grande.

 

 

Posts Relacionados