A celebração do Domingo de Pentecostes tem início com uma vigília realizada no sábado, sendo a mesma direcionada como uma preparação para a vinda do Espírito Santo, o qual comunica os seus dons à Igreja nascente, e assim tem sido ao longo dos séculos de nossa Igreja. Na celebração do Pentecostes, temos a coroação e plenitude da Páscoa, pois nesse momento, e com a vinda do Espírito Santo sobre os discípulos no cenáculo, temos a manifestação de nova vida celebrada com o Ressuscitado, refletindo na vida, missão e doação dos discípulos à Igreja.
O prometido por Jesus veio em Pentecostes, como podemos ler nos Atos dos Apóstolos e no Evangelho segundo São João: “ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a realização da promessa do Pai a qual, disse Ele, ouvistes da minha boca: João batizou com água; vós, porém, sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias” (At 1,4-5). Espírito que procede do Pai e do Filho: “quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade que vem do Pai, ele dará testemunho de mim e vós também dareis testemunho…” (Jo 15 26-27).
O Cardeal Raniero Cantalamessa O.F.M. Cap. faz uma reflexão interessante sobre a nossa relação com o Espírito Santo, levantando questões que as consideramos atuais, como por exemplo, “o que fazer, concretamente, para obter o Espírito Santo em nossa evangelização; como fazer para sermos, também nós, revestidos do poder do alto, como em um novo Pentecostes”. E acrescentamos: O que fazer para trazer a mensagem dos Padres da Igreja para a nossa evangelização? E no atual movimento da Igreja em saída? movimento tão clamado pelo Papa Francisco. Em resposta, o Cardeal Cantalamessa comenta que é algo simples, que basta olharmos para o dia de Pentecoste na bíblia, e encontraremos a palavra chave, que é a oração, é nos colocarmos em oração perseverante e intimidade com Deus, com a Santíssima Trindade. Somado a esse momento pessoal e particular, devemos buscar a oração comunitária, assim como estavam reunidos os apóstolos com Maria, e sobre eles veio o Espírito Santo.
O estudioso Meque Massada Armando, em 2019, fez um comentário muito pertinente e atual no contexto da Igreja Católica, ele comenta que “portanto, com a devida adoração e culto à pessoa do Espírito Santo, estaremos não simplesmente a cumprir uma lei ou uma doutrina, mas estaremos a nos aproximar, cada vez mais de coração aberto, de Deus, Uno e Trino. Nisso se percebe uma necessidade imediata de nos aproximarmos da Terceira Pessoa da Trindade com novos rostos”.
Sobre a ação atual do Espírito Santo na Igreja, o estudioso Francisco Catão enfatiza que “a história da Renovação Carismática que nasce na perspectiva pentecostal e se estende hoje às muitas e diversificadas novas comunidades ou aos novos movimentos religiosos, na sua grande maioria de matriz carismática, constitui sinal do papel cada vez mais relevante que o Espírito Santo e seus dons ocupam na Igreja”. Talvez, o que precise aprofundar nesses movimentos seja um estudo e um olhar mais teológico sobre o Espírito Santo, buscando uma união estre os aspectos espirituais e místicos com os racionais e teológicos.
O Mistério de amor que existe na Santíssima Trindade é algo que está fora do alcance da compreensão humana. Muitos homens e mulheres na história da Igreja conseguiram adentrar em algumas facetas desse mistério, para isso eles tiveram que abrir o seu coração para compreender esse amor. A abertura de coração para essa compreensão passa, necessariamente, pelo abrir-se à ação do Espírito Santo. Por quê insisto tanto em meus escritos com relação a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade? Por quê falar tanto sobre o Espírito Santo? Sabes por quê? Porque Ele é a nossa ponte de ligação com Deus Pai e Deus Filho.
É o Espírito Santo que vem tirar as escamas que estão cobrindo nossos olhos espirituais, as quais nos impedem de ver a beleza estonteante do céu e de nossa salvação. É Ele que vem ser nosso companheiro na jornada da vida em busca da salvação. O nosso adentrar no mistério de amor da Santíssima Trindade passa necessariamente pelo mergulho desejoso e sem medo no abismo do Espírito Santo. Foi assim que pude conhecer tão de perto o amor de Deus por mim. Muitas vezes esse mergulhar sem medo é o diferencial em nossa caminhada com Cristo. Por que diferencial? Pois muitas pessoas já caminham com Deus e segue todos os preceitos e doutrinas de nossa Igreja, mas nunca tiveram um encontro íntimo e pessoal com Deus. Muitas pessoas se prendem a meras formalidades e seguimentos racionais da fé, que estão esquecendo que ser de Deus é antes de tudo ser coração, ser fé, e só depois ser razão.
Podemos concluir essa breve reflexão com um dos ensinamentos contidos no Catecismo da Igreja Católica (CIC) sobre o Espírito Santo:
Jesus é Cristo, “ungido”, porque o Espírito Santo é a unção dele, e tudo o que advém a partir da Encarnação decorre desta plenitude. Quando finalmente Cristo é glorificado, pode, por sua vez, de junto do Pai, enviar o Espírito aos que crêem nele: comunica-lhes sua glória, isto é, o Espírito Santo que o glorifica. A missão conjunta se desdobrará então nos filhos adotados pelo Pai no Corpo de seu Filho: a missão do Espírito de adoção será uni-los a Cristo e fazê-los viver nele (CIC 690).
Que tenhamos uma Festa de Pentecostes abençoada e plena do derramamento dos dons dos Espírito Santo, principalmente o Dom da Fé. Que possamos viver um novo Pentecoste na Igreja a cada dia e em todos os dias.
Colaborou: Reinaldo Farias Paiva de Lucena