Campo Grande – MS, 25 de março de 2020.
Protocolo nº 076/2020
Livro VII
SOBRE A CONCESSÃO DE INDULGÊNCIAS ESPECIAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA
Caros irmãos e irmãs da Arquidiocese de Campo Grande,
Por ocasião do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, eu lhes escrevia que a reconciliação com Deus é dom gratuito de Sua infinita misericórdia. Da nossa parte, a oferta da graça divina supõe um processo em que se manifesta também o nosso empenho pessoal. Além disso, o próprio Senhor instituiu a Sua Igreja e sua missão
sacramental:
“Ora, tudo vem de Deus, que, por Cristo, nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério da reconciliação. Sim, foi o próprio Deus que, em Cristo, reconciliou o mundo consigo, não levando em conta os delitos da humanidade, e foi ele que pôs em nós a palavra da reconciliação. Somos, pois, embaixadores de Cristo; é como se Deus mesmo fizesse seu apelo através de nós. Em nome de Cristo, vos suplicamos: reconciliai-vos com Deus” (2 Cor 5,18-20).
A respeito da reconciliação, o Catecismo da Igreja Católica nos lembra que se trata de um caminho que tem o seu centro no Sacramento da Penitência; no entanto, onde os fiéis se encontrem na impossibilidade de receber a absolvição sacramental, a contrição perfeita, expressa por um sincero pedido de perdão, conforme o penitente for
capaz de expressar e acompanhada da firme decisão de recorrer à confissão sacramental o mais rápido possível, obtém perdão dos pecados, até mortais (n.1452).
Por outro lado, nos lembra o Santo Padre: “No Sacramento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente apagados; mas o cunho negativo que os pecados deixaram nos nossos comportamentos e pensamentos permanece. A misericórdia de Deus, porém, é mais forte também do que isso. Ela torna-se
indulgência do Pai” (Papa Francisco, Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, 11/4/2015).
A Penitenciaria Apostólica, organismo do Vaticano que cuida das questões de foro interno, inclusive da concessão das Indulgências, no dia 19 de março do corrente ano emitiu um Decreto que possibilita a todos os que sofrem por causa da atual pandemia redescobrir o sofrimento redentor de Cristo e viver esse tempo como uma oportunidade para uma profunda conversão pessoal. Esse Decreto concede Indulgência Plenária:
a) Aos fiéis infectados pelo Coronavírus e que se encontram em quarentena nos hospitais ou em suas próprias casas;
b) Aos profissionais de saúde, aos familiares e todos os que, mesmo expondo-se ao risco de contágio, cuidam dos doentes.
O que se pede é que, com o coração desapegado de qualquer pecado, se unam espiritualmente pelos meios de comunicação à celebração da Santa Missa, à oração do Santo Rosário, à prática piedosa da Via Sacra ou a outras formas de devoção, ou ao menos que recitem o Credo, o Pai Nosso e uma piedosa invocação da Virgem Maria, oferecendo suas orações em espírito de fé e de caridade, com o desejo de realizar a confissão sacramental, a comunhão eucarística e as orações nas intenções do Santo Padre, tão logo seja possível.
E quem não está em quarentena, nem cuidando das pessoas contaminadas?
Também podem ganhar Indulgência plenária se oferecerem uma visita ao Santíssimo Sacramento, ou a leitura das Sagradas Escrituras por pelo menos meia hora, ou a récita do Santo Rosário ou do Terço da Divina Misericórdia, ou o exercício piedoso da Via Sacra para implorar a Deus Todo-Poderoso pelo fim da pandemia, o alívio dos aflitos e a
salvação eterna de quantos o Senhor chamar a si mesmo.
E quanto aos agonizantes, que não podem receber o sacramento da Unção dos Enfermos ou o Viático, mas que estão devidamente dispostos e durante sua vida procuraram agir segundo sua consciência, orando de alguma forma ao nosso Bom Deus?
A Igreja confia cada um à Divina Misericórdia, na Comunhão dos Santos, concedendo também a eles a Indulgência plenária no momento da morte. Na medida do possível, os familiares ou amigos presentes podem orar pelo agonizante fazendo uso de um crucifixo ou de outro objeto de piedade.
Que o Senhor da Vida nos abençoe a todos. E que Nossa Senhora da Abadia seja nossa companheira nessa difícil caminhada.
Dom Dimas Lara Barbosa
Arcebispo de Campo Grande – MS