A
AARÃO
Membro da tribo de Levi, irmão de Moisés e de Maria (Ex 4,14; 15,20).
Foi um notável colaborador de Moisés (17,8-15; 24,1-11), seu porta-voz perante os israelitas e o Faraó (4,14-16.27-30; 5,1-5). Foi pecador, por isso seu sacerdócio foi caduco (32,1-6.25-29; Nm 12,1-13; At 7,39-41; Hb 7,11-14). A tradição sacerdotal vê nele o primeiro Sumo Sacerdote (Ex 29,1-30) e o antepassado da classe sacerdotal (28,1; Lv 1,5).
Dentro da tribo de Levi, Aarão e seus descendentes concentram em si o sacerdócio (Lv 13-14; Nm 18,1-28; Ex 30,19-20). No NT o sacerdócio de Cristo é considerado mais perfeito que o de Aarão (Hb 7,11.23-27).
ABADOM
heb. Destruição, Morte.
Em Jó.26:6; Jó.28:23; Jó.31:12; Sl.81:11; Pv.15:11 é traduzido como perdição, morte, destruição ou abismo.
Em Ap.9:11 refere-se ao anjo do abismo, gr. Apoliom.
ABEL
Segundo filho de Adão e Eva. Era pastor e de seu rebanho oferecia sacrifícios agradáveis a Deus. Seu irmão Caim, que era agricultor, construtor de cidades (Gn 4,17) e pai da civilização (4,22), o assassinou por inveja (4,2-8).
Por causa de sua fé e justiça Abel tornou-se modelo do mártir cristão (Hb 11,4; 1Jo 3,12). Seu sangue lembra o sangue purificador do justo Jesus (Hb 12,24; Mt 23,35).
ABIRAM
Era membro da tribo de Rúben.
Com seu irmão Datã e o apoio de Coré, revoltou-se contra a liderança de Moisés e os privilégios do sacerdócio de Aarão. Mas foram punidos por Deus e tragados pela terra (Nm 16,1-40; Sl 106,16-18).
ABLUÇÃO
A impureza legal do AT nada tem a ver com a impureza moral (Ex 19,10-14; Lv 15,5-13; Dt 23,1-12; Ez 44).
Mas os profetas insistem mais na pureza de coração (Is 1,16-17; Ez 36,25-27). Jesus e os apóstolos estavam em conflito com as abluções dos judeus (Mc 7,1-8).
A palavra de Deus é que purifica (Jo 15,3) e o sangue de Cristo nos lava de toda a mancha (Jo 13,6-15; Hb 10,19-22; Ap 7,14). Ver “Puro-Impuro”.
ABOMINAÇÃO
Termo de desprezo para indicar uma estátua de um ídolo (Dt 7,25; Sb 12,23). Em Ezequiel indica as práticas idolátricas em geral.
ABOMINAÇÃO DA DESOLAÇÃO
Nome desonroso que os livros de Daniel e Macabeus usam para designar o altar pagão que Antíoco Epífanes (168 aC) mandou erigir no templo de Jerusalém em homenagem a Baal Chamem (Senhor dos Céus), equivalente aramaico de Zeus Olímpico (cf. 1Mc 1,54; Dn 11,31 e nota).
No NT o termo caracteriza a atividade blasfemadora do Anticristo antes da segunda vinda de Cristo (2Ts 2,3-8; Lc 21,14.20).
ABRAÃO
É o mais antigo dos patriarcas e antepassado do povo de Israel (Gn 11–25).
Atendendo à ordem de Deus, deixou Ur dos caldeus e, na primeira metade do segundo milênio aC, emigrou para Canaã. Ali Deus fez com ele uma aliança, prometendo uma terra e uma grande descendência. Quando estava em idade avançada, Sara sua esposa lhe deu um filho, Isaac. Mas Deus o submeteu à prova pedindo que lhe sacrificasse o filho único. Justificado por sua fé (Gl 3,6s; Rm 4,1-13), Abraão tornou-se um modelo de fé e o pai de todos os crentes (4,18-22; Hb 11,8-19).
ACAIA
Província romana que compreende a parte central da atual Grécia (At 18,12.27), onde Paulo pregou o Evangelho durante a segunda e a terceira viagem missionária (At 17-19).
ADÃO
É o nome do primeiro ser humano (Gn 4,25–5,5), criado à imagem de Deus. Em hebraico adam significa “ser humano”, “gênero humano”, e adamah, “terra”.
Este sentido coletivo do termo está presente no relato de Gn 2–4. Mas os LXX e a Vulgata o interpretaram erroneamente como nome próprio, a partir de Gn 2,19.
Por sua origem o homem é terra (2,7) e, ao morrer, voltará a ser terra (3,19); enquanto vive deve cultivar a terra que é a sua morada (2,5; 3,17.23).
Criado para viver no jardim do Éden, em companhia de Eva e na presença de Deus, Adão de lá foi expulso por causa de sua desobediência.
Com esta desobediência o pecado e a morte entraram no mundo. Mas Cristo, o novo Adão, por sua obediência obteve a graça e a ressurreição de todos os homens (Rm 5,12-21; 1Cor 15,20-22.25-49). Ver as notas em Gn 2,7 e 4,26.
ADOÇÃO
São raros os casos de adoção no AT. E são reservados aos filhos da concubina (Gn 30,1-13; cf. 49,1-28).
Colocar o filho sobre os joelhos era um rito de adoção (Gn 48,1-13; 50,23; Rt 4,16-17). O povo de Israel é o filho adotivo de Deus (Ex 4,22s; Jr 3,19; Os 11,1; Dt 14,1; Rm 9,4). Os profetas lembram a Javé sua paternidade (Is 63,16-18; 64,7-9). O “nascer do alto”, mediante a água e o Espírito Santo, é o sinal da adoção divina (Jo 3,3-7).
Cristo resgatou os que estavam escravizados pela lei de Moisés e lhes deu uma adoção filial, que supera a jurídica, mediante o Espírito (Gl 4,4-7; Rm 8,14-29; 2Pd 1,4). Devemos viver, portanto, como filhos de Deus (Fl 2,15-16; 1Pd 1,13-17), deixar-nos corrigir por ele quando pecamos (Hb 12,5-11) e a ele voltar como o filho pródigo (Lc 15,11-32). Na oração devemos importuná-lo como a um pai (Mt 6,7-15; 7,7-11). Ver “Batismo”.
ADORAÇÃO
Somente a Deus se deve adorar (Ex 20,3-5; 2Rs 17,36; Mt 4,10; At 10,25-26) e Jesus Cristo (Mt 28,17; Fl 2,9-11; Hb 1,6). Ver “Culto”.
ADULTÉRIO
É toda relação sexual extraconjugal do homem ou da mulher casados. No AT, a mulher é considerada propriedade do marido e a virgem, antes do noivado, propriedade do pai. Por isso o adultério da mulher e a defloração duma virgem são um crime contra a lei e contra o direito da propriedade (Ex 20,14; 22,15-16), punível com a morte (Dt 22,22-29). O povo eleito, infiel a Deus, é comparável à mulher adúltera (Os 1–3; Jr 2–3; Ez 16). Jesus condenou o adultério, até o simples desejo de cometê-lo (Mt 5,27s; 19,3-9), mas perdoou à mulher adúltera (Jo 8,1-11). O cristão é membro de Cristo, templo do Espírito Santo e vive uma vida nova na luz; por isso não deve profanar-se com o adultério e a fornicação (1Cor 5; 6,12-19; Ef 4,17–5,20). Ver “Divórcio”.
AGRIPA
São dois os personagens conhecidos por este nome:
1. Herodes Agripa I, neto de Herodes o Grande e Mariamne I. Nascido no ano 10 aC, em 37 tornou-se tetrarca da Ituréia e Abilene; em 39, da Galiléia e Peréia; em 41, da Judéia e Samaria, e recebeu o título de rei. Em 44 morreu de repente em Cesaréia, após ter perseguido a comunidade cristã (At 12,1-23).
2. Herodes Agripa II (27-29), filho de Agripa I. Em 53 tornou-se tetrarca da Ituréia e Abilene e, como tal, escutou a defesa de Paulo reconhecendo sua inocência (At 25,13-26.32).
ÁGUA
Sendo a água indispensável para a vida dos homens (Ex 23,25), animais (Gn 24,11-20) e plantas (1Rs 18,41-45), é vista como um dom salvífico de Deus. Ele a concede abundante aos que deseja salvar (Ex 17,5s; Is 12,5). Mas ela lhe serve também de instrumento de punição para os inimigos, como no dilúvio (Gn 6–8) e no êxodo (Ex 14–15).
Usada na limpeza física, a água serve também na purificação cultual (Ex 30,17s; Lv 16,4.24) e ritual (Nm 19,11-22). Para os tempos escatológicos Deus promete derramar sobre o povo águas purificadoras, acompanhadas de seu Espírito (Ex 36,25-27; Is 44,3; Zc 13,1s).
No NT João Batista se serve da água para o seu batismo de penitência (Mc 1,8-11). O batismo cristão é fonte de regeneração e renovação do Espírito Santo (Tt 3,5). Os que a ele se submetem são purificados de seus pecados e recebem o Espírito Santo (At 2,38; 1Cor 10,1s). Cristo promete fazer jorrar a água viva de seu Espírito para os que nele crêem.
ALELUIA
É uma exclamação litúrgica em Tb 13,22 e especialmente nos Salmos (Sl 111–112; 104–105; 115–117; 146–150). O termo significa “louvai ao Senhor”. É pois um convite do salmista para participar no alegre louvor de Deus, que passou para o uso da liturgia cristã.
ALIANÇA
Na época da monarquia de Israel (1030-587) a relação entre Deus e o povo passou a ser vista como um pacto de mútuo amor e fidelidade. Mas não como um pacto entre duas partes iguais, pois a iniciativa cabe unicamente a Deus. É ele quem escolhe gratuitamente Israel como seu povo. Em virtude desta eleição e aliança, Israel contrai obrigações.
O historiador sacerdotal (séc. VI aC) descreve a história salvífica desde a criação até à época de Moisés como uma sucessão de alianças divinas. Após o dilúvio, Deus faz com Noé uma aliança de caráter universal, que tem como preceito a proibição de comer sangue (cf. Gn 9,1-17 e nota). Após a dispersão de Babel, Deus faz aliança com Abraão, restringindo o seu plano salvífico aos descendentes do patriarca, que são obrigados a praticar a circuncisão (cf. Gn 17,3-14 e nota). Esta aliança inclui a promessa de descendência e duma terra (Gn 12,3-7; 15,1s; 22,16-18; 50,24; Sl 105,8-11). Depois da opressão do Egito, Deus sela com Israel a aliança do Sinai (cf. Ex 24,3-8 e nota), por meio do rito de sangue. Assim Israel nasceu como povo livre (Lv 26,42-45; Dt 4,31; Eclo 44,21-23) e comprometido em observar os mandamentos e a Lei (Ex 20,1; 20,22–23,33 e nota; Dt 5,1-21). Em contrapartida, Deus promete fazê-lo seu povo particular (Ex 19,4-8) e cercá-lo com sua proteção (Dt 11,22-25; 28,1-14).
Mas o povo foi muitas vezes infiel aos compromissos desta aliança. Os profetas denunciaram a infidelidade e anunciaram o exílio como castigo. Ao mesmo tempo, porém, prometeram uma nova aliança para os tempos messiânicos; ela será como um novo vínculo matrimonial entre Deus e Israel (Os 2,20-24), e a Lei será inscrita nos corações humanos transformados (Jr 31,33s; 32,37-41; Ez 36,26s).
Esta aliança cumpriu-se com a vinda de Cristo e foi selada pelo seu próprio sangue (Mt 26,28; Hb 9,20; 1Cor 11,25). Na nova aliança o pecado será apagado (Rm 11,27), os corações humanos serão transformados pelo Espírito Santo (5,5) e Deus passará a habitar entre os homens (2Cor 6,16).
Em grego o termo “aliança” significa também “ testamento”, ou última vontade que entra em vigor com a morte do testador. Por isso, a nova aliança inaugurada por Cristo é chamada também “Novo Testamento”, em contraposição com a antiga aliança ou “Antigo Testamento”(Hb 9,16). Ver: Testemunho ou documento da aliança em Ex 25,16 e nota; o matrimônio como aliança em Ml 2,14 e nota.
ALMA
Não é noção bíblica, mas grega. Ver “Carne”, “Homem”.
ALQUEIRE
Medida de cerca de nove litros.
ALTAR
Feito de terra ou de pedras (Ex 20,24), o altar servia em geral para oferecer sacrifícios; ocasionalmente é um monumento que lembra experiências religiosas dos patriarcas (Gn 12,8; 13,8; 26,25; 33,20). O altar tinha nos ângulos quatro pontas salientes, chamadas também “chifres”; elas simbolizavam o poder e a força de Deus (Ex 27,2; 37,25). Um criminoso agarrando-se nelas poderia garantir para si o asilo (21,14; 1Rs 1,50) e escapar à vingança de sangue. No templo havia o altar dos holocaustos e o altar do incenso.
No NT o altar perde sua importância, pois Cristo aboliu com seu sangue os sacrifícios cruentos do AT (Hb 9,28). Em seu lugar ganhou importância a mesa, pois a eucaristia celebra a ceia do Senhor (1Cor 11,20).
ALTÍSSIMO
Ver “Deus”.
AMALEC
. É o neto de Esaú e antepassado dos amalecitas. Esta tribo nômade do sul da Palestina tentou impedir a passagem de Israel rumo à Terra Prometida (Ex 17,8-16).
AMÉM
Termo hebraico que significa “certamente”, “verdadeiramente”(cf. Dt 27,15 e nota).
AMON
É um clã que vive na Transjordânia, nas cabeceiras do rio Jaboc, onde está a atual cidade de Amã. Os amonitas tentaram barrar a passagem de Israel à Terra Prometida (Dt 23,5). Desde a época dos juízes se tornaram inimigos do povo eleito (Jz 3,13; 10,6-9) e foram derrotados por Jefté (11,1-12,4), Saul (1Sm 11,1-11) e Davi (2Sm 12,26-31). Segundo uma anedota popular são descendentes de Ben-Ami, nascido de um incesto de uma das filhas de Ló com o pai (Cf. Gn 19,30-38 e nota).
AMOR
O amor a Deus é o primeiro e o maior dos mandamentos (Dt 6,5; Js 22,5; Mc 12,28-30). É a resposta do ser humano à iniciativa de Deus, que nos amou primeiro (Os 9,10; 11,1-4; Jr 2,2-4; 31,3; Is 63,9; Gl 2,20; 1Jo 4,19). O amor imenso de Deus se manifesta na cruz de Cristo (Jo 3,16s; 1Jo 3,1-16; 4,7-19; Rm 5,8; 8,32).
O amor a Deus implica obediência à vontade de Deus (Dt 5,8-10; 10,12-21; Mt 7,21-28; Jo 15,9-11; 1Jo 2,3; 5,3Dt 5,8-10), o desapego ao mundo (Mt 6,24; Rm 8,7-11; Tg 4,4; 1Jo 2,15-17) e o amor a Jesus (Mt 10,37; Jo 14,21-23; 1Cor 16,24; Fl 1,21-23; At 5,41).
O amor ao próximo, junto com o amor a Deus, resume a Lei e os Profetas (Lv 19,16-18; 1Ts 4,9-12; Gl 5,13-15; Rm 13,8-10; Mt 22,35-40; 1Jo 2,7); é o “nó” da perfeição (Cl 3,14) e apaga os pecados (1Pd 4,7-11). O amor aos inimigos foi revelado progressivamente (Dt 15,1-3; Lv 19,33-34; Pr 25,21-22; Rm 12,20; Mt 5,43-48).
O amor ao próximo conhece degraus: a) amar o próximo como a si mesmo (Mt 22,26); b) amar o próximo como a Cristo (Mt 25,31-46); c) amar o próximo como Cristo o ama (Jo 15,9s; 1Jo 3,16-19; 1Pd 1,22-23Jo 15,9s); d) amar o próximo à imagem do amor trinitário (Jo 17,21-23; 1Jo 4,7-16).
O amor fraterno é um sinal de contradição para o mundo (1Jo 3,11-15; Jo 15,18-21); é um sinal de que amamos a Deus (1Jo 2,3-11; 4,19-21; Tg 2,1-3.14-26). Ver “Próximo”.
AMORREUS
Nome de um dos povos pré-israelitas que ocupavam a Palestina e a Transjordânia. Foram derrotados pelos israelitas ao iniciarem a conquista de Canaã, após a saída do Egito (Nm 21,21-35). Na Cisjordânia, Josué derrotou cinco reis amorreus (Js 10,1-14).
ANANIAS
O nome em hebraico significa “o Senhor compadeceu-se”. São conhecidos três personagens do NT com esse nome:
1. o marido de Safira (At 5,1-11);
2. o cristão que acolheu Paulo em Damasco, por ocasião de sua conversão (9,10-17; 22,12-16);
3. o Sumo Sacerdote que mandou esbofetear Paulo frente ao tribunal (23,2-5). Nesta ocasião, Paulo profetizou sua morte violenta; de fato, ele foi assassinado em 66 dC pelos zelotes.
ANÁS
Sumo Sacerdote, nomeado por Quirino, que exerceu o cargo entre 6 e 15 dC (Lc 3,2). É o sogro do Sumo Sacerdote Caifás, com quem presidiu ao interrogatório de Jesus (Jo 18,13-24) e ao de Pedro e João (At 4,6).
ANÁTEMA
Ou “extermínio”(em hebraico herem ), significa uma pessoa, animal ou coisa que alguém subtrai do uso profano, consagrando-a a Deus (Dt 12,12-14; Js 11,11.14). Tal “anátema” não podia ser resgatado, e muitas vezes devia ser destruído (cf. Js 6,17 e 1Sm 15,3; Jz 11,30-31 e nota). Com o tempo, “anátema” indicava apenas objetos oferecidos a Deus (Lv 27,28; Ez 44,27; Mc 7,11; Lc 21,5). Neste sentido Paulo diz que desejava ser “anátema” de Cristo em favor dos judeus (cf. Rm 9,2-5 e nota). Mas no NT “anátema” podia significar também exclusão temporária ou definitiva de uma pessoa do culto e da comunidade (Jo 9,22; 1Cor 16,22; Gl 1,8-9; cf. Esd 10,8).
ANCIÃOS
No período tribal de Israel a autoridade era exercida pelos chefes das tribos, em geral os mais velhos. Em princípio, todos os chefes de família gozavam de iguais direitos, mas na realidade eram os poderosos que exerciam a autoridade na tribo. Assim, o termo “ancião” ficou vinculado mais à dignidade do que à idade. Aos anciãos cabia a chefia em tempos de guerra e o poder judicial em tempos de paz.
No período da monarquia perderam sua importância, graças à centralização do poder administrativo e judiciário em Jerusalém. Mas continuavam a organizar a vida cotidiana nas pequenas localidades, função que também exerceram após o exílio (Esd 7,25; 10,8.14). Junto com os sacerdotes e escribas faziam parte do Sinédrio (Mt 27,41; Mc 11,27; 14,43-53). Nas primeiras comunidades cristãs os anciãos governavam as igrejas locais (At 11,30; 14,23; cf. 1Pd 5,1 e nota).
ANJO
Significa “mensageiro”, “enviado”. Neste sentido Deus pode enviar profetas (Is 14,32) ou sacerdotes (Ml 2,7) como seus mensageiros. Em textos anteriores à monarquia, o anjo é às vezes identificado com o próprio Deus (cf. Gn 16,7 e nota; 22,11-18; 31,11-13; Ex 3,2-5; Jz 2,1-4). A preocupação com a transcendência divina (Deus, um ser distante e diferente), leva a falar dos anjos como intermediários (Ex 14; 23,20-23; Nm 22,22-35; Jz 2,1-4; 6,11-24; 13,3-23; Gl 3,18-22Ex 14,19-20). Eles são, portanto, os mediadores da Aliança. À maneira de um monarca oriental, cercado de cortesãos, Deus passa a ser visto como rodeado de anjos (Gn 28,12; Jo 1,51; 1Rs 22,19-23; Is 6,2-6; Jó 1,6-12; Mt 16,27), organizados numa verdadeira hierarquia (Gn 3,24; Is 6,2; Ef 1,21; Cl 1,16; 1Pd 3,22; 1Ts 4,16).
A crença nos anjos se desenvolveu muito após o exílio. Por isso, o NT insiste na superioridade da mediação de Cristo sobre a dos anjos (Hb 1,4-6; 2,5-16; Ef 1,20-23; Cl 1,15-20).
ANO SABÁTICO
Era o último de um período de sete anos. Nele o escravo hebreu tinha direito de recuperar a liberdade (Ex 21,2-6); os campos, vinhas e olivais deviam ficar inexplorados (23,10s). Ver Lv 25,2; Dt 15,1; Jr 34,8 e respectivas notas.
ANTICRISTO
Ou “homem da iniqüidade”(2Ts 2,1-11), é tudo o que se opõe a Cristo, ao Messias. É um personagem que se dedica totalmente ao mal (cf. 1Jo 2,18; 2Jo 7) e que se atribui honras divinas. Em Mateus e Marcos parece ser um personagem coletivo (Mt 24,23s; Mc 13,14-20). É a encarnação das forças políticas e religiosas que se opõem ao reino de Deus inaugurado por Cristo (Ap 13,1-18). Cristo, iniciando o combate escatológico contra o mal, já se encontrou com o anticristo, “o príncipe deste mundo”(Jo 12,31-32; 14,30; 16,11), a quem aniquilará no fim dos tempos (2Ts 2,8; 1,7-10). Ver “Parusia”.
ANTIOQUIA
Cidade fundada por Seleuco I, que se tornou um rico centro comercial, foco da cultura helênica e residência dos Selêucidas. Em 64 aC tornou-se capital da província romana da Síria. Ali foi fundada a primeira comunidade cristã mista, composta de judeus e pagãos convertidos. Os membros desta comunidade pela primeira vez foram chamados cristãos. Dela partiram Paulo e Barnabé para as suas viagens missionárias (At 13,1-3; 14,26-28; 15,35-40; 18,22). Na Ásia Menor, na Pisídia, havia outra Antioquia, onde também Paulo e Barnabé fundaram uma comunidade cristã (At 13,14-52).
ANTIPAS
Ou Herodes Antipas, um dos filhos de Herodes o Grande, que de 4 aC a 39 dC governou a tetrarquia da Galiléia e da Peréia. Nos Evangelhos é chamado simplesmente Herodes (Lc 3,19; 9,9; 13,31-33) e foi denunciado por João Batista por ter tomado a mulher de seu irmão, Herodes Filipe. Instigado por Herodíades, Antipas mandou degolar o Batista (Mt 14,1-12). Ver “Herodes”.
APARIÇÃO
Ver “Teofania”.
APOCALÍPTICA
Ou gênero literário apocalíptico (cf. Introdução ao livro de Daniel). Amplamente difundido no judaísmo do séc. II aC ao II dC. Tal literatura se caracteriza por uma fantasia exuberante e mesmo bizarra. Nela, animais simbolizam pessoas e povos; números têm valor simbólico e a revelação sobre a história futura é feita por meio de visões explicadas por anjos intérpretes, apresentados como homens. Exemplos deste gênero literário já aparecem em Is 24–27; Ez 38–39; Zc 9–14. Mas ele é amplamente usado no livro de Daniel, no Apocalipse e na literatura apócrifa judaica e cristã.
APÓCRIFOS
São escritos judaicos ou cristãos não usados na liturgia e na teologia. Promovem muitas vezes doutrinas estranhas e mesmo heréticas. Para recomendá-las aos leitores são apresentados como pretensas revelações de personagens bíblicos do AT e do NT. Mas não foram inseridos entre os livros canônicos. Há livros apócrifos tanto do AT como do NT. As Igrejas protestantes chamam de apócrifos aqueles livros do AT que os católicos consideram deuterocanônicos. Os que os católicos chamam apócrifos, os protestantes consideram pseudepígrafos. Para o NT adotam a mesma terminologia dos católicos.
APOLO
Cristão de Alexandria que pregou o Evangelho em Éfeso e Corinto, mas no começo conhecia apenas o batismo de João Batista (At 18,24-28; 1Cor 1,12).
APÓSTOLO
Significa “enviado”, “ mensageiro”. Nos evangelhos o termo é reservado aos doze discípulos escolhidos por Jesus (Mc 3,13-19; Lc 6,13-16), para agir em seu nome (Mt 10,5-8.40). Os apóstolos são escolhidos por Deus para pregar o Evangelho (Rm 1,1; 2Cor 5,20), são a base da Igreja (Ef 2,20; Ap 21,14) e constituem o novo Israel de Deus, recordando as doze tribos (Gn 35,23-26; At 7,8; Mt 19,28; Lc 22,30).
Duas são as condições para ser apóstolo: Ter participado na vida pública de Jesus e ser testemunha da ressurreição (At 1,21s; 2,32; Mt 28,19; Jo 20,21). Por isso, contemporâneos de Paulo negavam-lhe a categoria de apóstolo, pois não pertencia aos Doze, nem havia compartilhado da vida pública do Senhor (1Cor 9,1-2; 15,3-9; 2Cor 11,5; 11,13; 12,11-13). Mas Paulo responde que também viu o Ressuscitado, dele recebeu o Evangelho e a investidura no apostolado. Por isso, ele se considera apóstolo de Cristo (1Cor 1,1; 2Cor 1,1; Gl 1,1; Ef 1,1) distinguindo-se dos apóstolos (enviados) das igrejas (Fl 2,25; 4,3; 2Cor 8,23; Rm 16,7), ainda que não pertença aos Doze e não seja testemunha da ressurreição (1Cor 12,28; 15,7-11; Gl 1,15s).
Pedro aparece como o primeiro dos apóstolos (Lc 6,14; 12,41; 8,45; 9,32-33. Ele é a “rocha” e o portador das chaves da casa de Deus (Mt 16,17-18; Jo 1,41-42); é a primeira testemunha da ressurreição (At 1,15-20).
ÁQÜILA
Judeu que se converteu com sua esposa Priscila em Roma, donde foi expulso por decreto de Cláudio, junto com outros judeus. Nesta ocasião Paulo o encontrou em Corinto, trabalhou e hospedou-se em sua casa (At 18,2s). Áqüila e Priscila acompanharam Paulo a Éfeso, onde encontraram Apolo e o instruíram na doutrina do Apóstolo (At 18,18-26). Paulo os tinha em grande estima como cooperadores no apostolado (Rm 16,3-5).
ARCA DA ALIANÇA
Ou “arca de Deus”(1Sm 3,3), era um cofre de madeira recamado de ouro (Ex 25,1-22), sinal visível da presença do Deus invisível no meio do povo. Aos israelitas não era permitido representar a divindade por meio de imagens ou esculturas. No entanto a fé precisa de suportes sensíveis e a arca preenchia tal necessidade. Tanta era a fé do povo na arca sagrada, que por vezes a levavam ao campo de batalha, persuadidos de que assim Deus mesmo lutaria a seu lado (1Sm 4,2-11). Era chamada “da aliança” ou também “do testemunho”, porque nela estavam guardadas as tábuas da Lei, base da aliança de Deus com Israel. A arca foi colocada no recinto do Santo dos Santos do templo de Jerusalém (1Rs 8,1-9). Perdeu-se com a destruição de Jerusalém em 587 aC (2Rs 25,1-21). Sobre o destino da arca da aliança veja a lenda em 2Mc 2,4-8 (nota). Ver “Imagem”.
ARMAGEDOM
heb. Monte de Megido.
Israel venceu o exército de Sísera em Megido, Jz.5:19; O rei Josias, morreu na batalha contra Faraó-Neco em Megido, 2Rs.23:29;
A última e decisiva rebelião contra Deus culminará em uma guerra mundial, que findará na batalha de Armagedom, Ap.16:16·
AREÓPAGO
Colina de pedra junto à Acrópole de Atenas, onde havia santuários pagãos. Ali se reunia o Supremo Tribunal de Atenas. Paulo, no ano 50 dC, dirigiu um discurso aos membros do Areópago (At 17,19-34).
ARQUELAU
Etnarca da Judéia, Samaria e Iduméia (4 aC a 6 dC), mencionado em Mt 2,22. Escandalizou os judeus por sua vida particular e pelas nomeações de sumos sacerdotes, que fez. Foi denunciado em Roma e deposto. O seu território passou a ser governado pelos procuradores romanos.
ASCENSÃO
Tradições bíblicas populares falam da ascensão de personagens que voltariam no fim dos tempos (Gn 5,21-24; 2Rs 2,11-13; Jd 14). Ressurreição e Ascensão de Jesus são um e o mesmo mistério (Lc 24,1.13.50-53; Jo 20,17-23; Rm 8,34). Somente At 1,1-11 fala de um intervalo de 40 dias entre a Ressurreição e Ascensão. O binômio descida-subida ilumina o sentido da ascensão (At 2,29-36; Fl 2,6-11; Ef 4,10; 1Pd 3,19-22; Rm 10,5-7); João concentra estes dois aspectos na palavra exaltar (Jo 3,12-15; 8,27-29; 12,31-34). Afirma a divindade de Cristo e tem uma dimensão escatológica (Lc 24,26; At 1,9-11; Ef 1,20; Hb 9,24; 1Pd 3,22; cf. Mt 24,30-31). É garantia da nossa salvação (Jo 14,2s; Rm 8,17.34; Ef 2,5s; 1Pd 1,3-4).
ASERA
Divindade feminina dos fenícios, companheira de Baal, representada por um árvore ou por uma estaca sagrada. Ver “Astarte”.
ÁSIA
Correspondia ao reino dos Selêucidas, que abrangia a Ásia Menor e o Médio Oriente (1Mc 8,6; 11,3; 12,39; 2Mc 3,3; 10,24). Mais tarde a província romana da Ásia, cuja capital era Éfeso, abrangia a Mísia, a Frígia, a Lídia e a Cária, ou seja, a parte oeste da atual Ásia Menor (Rm 16,6; 1Cor 16,19; 2Cor 1,8; 2Tm 1,15). Paulo evangelizou esta região durante a sua terceira viagem (At 18–21). A Primeira Epístola de Pedro é dirigida também aos cristãos da Ásia e o Apocalipse envia cartas às sete principais comunidades da Ásia (Ap 2–3).
ASSEMBLÉIA
Ver “Igreja”.
ASSIDEUS
Ver 1Mc 2,42
ASSÍRIOS
Semitas, descendentes de Assur, um dos filhos de Sem (Gn 10,22). Estabeleceram-se no curso médio do rio Tigre, na Mesopotâmia. Eram um povo guerreiro, que herdou a cultura hurrita e suméria e fundou um grande império no séc. VII aC, destruído pelos medos e babilônios em 605 aC. Foram eles que destruíram o reino de Israel (722 aC) e exilaram sua população (2Rs 17).
ASTARTE
Deusa semítica da vegetação e da fertilidade, associada a Baal. Era cultuada em toda a Ásia Menor, especialmente na Fenícia (1Rs 11,5.33; 2Rs 23,13). Seu culto também foi muito apreciado pelos israelitas, arrastando-os à idolatria (cf. Jz 2,13 e nota). Ver “Asera”.
AUGUSTO
Nome do primeiro imperador romano, sob o qual nasceu Jesus (Lc 2,1). Significa “abençoado, sublime”. Mais tarde passou a ser o nome comum dos imperadores reinantes, como expressão do sentido religioso da dignidade imperial. Por isso no Apocalipse se diz que o nome da “besta” é blasfemo (13,1; 17,3).
AUTÊNTICO
Ou “genuíno”, diz-se de um escrito que é realmente do autor a quem se atribui, ou de um texto traduzido enquanto é fiel ao original. O fato de um livro da Bíblia ser falsamente atribuído a algum determinado personagem bíblico não lhe tira a autoridade de escrito inspirado e canônico.
AUTORIDADE
Os israelitas conheceram apenas uma única forma de estado nacional : a monarquia. Na Bíblia havia uma corrente hostil à monarquia (1Sm 8,1-22; 10,18-27; Dt 17,14-20; Os 7,3-7; 13,9-11; Ez 34,1-10); e outra favorável (1Sm 9,1-10.16; 11,1-11.15; Sl 2; 20; 21).
Antes da monarquia havia juízes, salvadores das tribos em momentos críticos, chamados por isso “maiores”(Jz 3,9-10.15; 4,7; 8,22-23); ao lado deles havia os “juízes menores”, ou governantes que se encarregavam de administrar a justiça (Jz 10,1-5; 12,8-15). Depois dela, após o exílio, são as autoridades locais, tradicionais (Esd 5,9; 6,7; 7,1-26; Lc 22,66–23,1). Entretanto, Deus é o único e o verdadeiro rei das nações (Ex 15,8; Jz 8,23; 1Rs 22,19; Is 6,5; 41,21; 43,15; 1Cr 17,14). Ele é também o dono de todas as nações (Is 14,21–23,18; 45,1-6; Pr 8,15-16; Eclo 10,1-4).
Os profetas criticam os abusos das autoridades civis e religiosas (Mq 3,1-4; Am 6,1-4; Os 4,1-5.14; 7,1-7; 13,10s; Is 3,1-15; 10,1-4; Ez 34), como Jesus o fará em relação aos escribas e fariseus (Mt 23). Anunciam o reino de Deus (Is 7,14; 9,5-6; 11,1-5; Jr 23,5; Mq 5,1; Zc 9,9-10; cf. Sl 47; 93; 96–99; Dn 10,13.20-21).
Jesus escolhe o caminho do Servo Sofredor e recusa a realeza temporal (Mt 4,8-11; Jo 6,14-15; At 1,6) Sua realeza não é deste mundo (Mt 21,1-9; Lc 17,20-21; Jo 12,12-19.31-32; 18,36-37; Ef 1,9-10.15-23).
Na Igreja, a autoridade está a serviço do próximo (Mc 9,33-35; Mt 23,11-12; Jo 13,12-17; Ef 4,11s).
ÁZIMOS
São pães sem fermento que se comiam na semana da Páscoa. A festa dos Ázimos celebrava-se no princípio da colheita da cevada e do trigo (cf. Ex 12,15-20; Lv 23,5-8 e notas). Ver “Festa”.
BAAL
Termo hebraico que significa “senhor”. É o nome do deus mais importante e mais popular da Síria, Fenícia e Canaã. Este deus era considerado o senhor do céu e, consequentemente, o deus da chuva, da vegetação e da fertilidade em geral. Seu culto sempre atraiu os israelitas (1Rs 16,31-33; 18,20s), apesar de combatido pelos profetas (Jr 2,23; 11,13; Ez 6,4-6; Os 13,1-6). Baal é também o nome genérico das divindades de Canaã (cf. Jz 2,11 ).
B
BABEL
heb. Porta de Deus.
Primeira cidade mencionada depois do dilúvio, edificada na planície de Sinear, Gn.11:2-9;
Tencionavam construir uma torre altíssima, e estabelecer nela o centro do império do mundo Gn.11:4;
O castigo divino foi a confusão de línguas e o fracasso da obra, Gn.11:7-8;
Apesar de o povo ter sido disperso sobre a terra, existiu ali uma grande comunidade.
ver Babilônia.
BABILÔNIA
Ou “Babel”, é a capital da Babilônia. Babel significa “porta de Deus”. Mas a etimologia popular da narrativa da torre de Babel (cf. Gn 11,1-9 e nota) deturpou o sentido para “confusão”. Para a Babilônia foram deportados os judeus ao ser destruída Jerusalém em 587 aC (2Rs 25). Na literatura apocalíptica, Babilônia-Jerusalém se contrapõem como Anticristo-Cristo (Gn 11,2-9 e At 2,5-12). Babilônia é a cidade da técnica, Jerusalém da graça; Babilônia é a prostituta, Jerusalém, a esposa (Ap 17,1-5; 19,2; 21,2). Esta Babilônia, nome simbólico de qualquer nação hostil a Deus, está constantemente em luta com a Igreja (Ap 17,18; 1Pd 5,13).
BALAÃO
Profeta pagão, muito famoso na Transjordânia (cf. Nm 22,5 ), contratado pelo rei de Moab para amaldiçoar os israelitas, prestes a conquistar Canaã (Nm 22-24). A narrativa popular mostra como Deus se serviu de uma mula para levar Balaão a abençoar Israel.
BARNABÉ
Apelido, que significa “filho da consolação”(At 4,36), dado a José, um levita de Chipre, convertido ao cristianismo. Era um modelo de generosidade e vivia em Jerusalém. Foi ele quem acolheu Saulo, recém-convertido, e serviu de intermediário entre Saulo e os apóstolos (9,27). Foi companheiro de apostolado de Paulo até o concílio dos apóstolos (11,22-30; 13–14; 15,2-30; Gl 2,1.9). A partir da segunda viagem separou-se de Paulo (At 15,36-39), com quem voltou a colaborar mais tarde (1Cor 9,6).
BARTOLOMEU
Nome de um dos doze apóstolos (Mt 10,3; At 1,13). Provavelmente deve ser identificado com Natanael (Jo 1,45).
BATISMO
Banhos sacros de purificação de impurezas morais ou rituais, ou para conceder forças vitais, eram conhecidos por vários povos antigos. Na religião israelita a imersão na água era usada para a purificação da lepra curada (Lv 14,8), para tirar a impureza sexual (15,16-18) ou resultante do contato com um cadáver (Nm 19,19). Tal rito purificatório, aplicado aos prosélitos, tornou-se uma espécie de rito de iniciação do judaísmo, quase tão importante como a circuncisão. Semelhante ao batismo dos prosélitos é o batismo administrado por João Batista. Mas sua característica é o forte apelo à conversão moral, que prepara a vinda do Reino de Deus (Mc 1,4). João Batista batiza apenas em água, sem o espírito. Por isso seu batismo é imperfeito (Mt 3,11; At 1,4s), o mesmo acontecendo com o batismo que os Doze administravam, antes do dom do Espírito (Jo 4,1-2; 7,37-39).
O batismo cristão é considerado superior ao de João porque não é feito apenas com água, mas com o Espírito Santo (Mt 3,11; Jo 1,33; At 1,5; 11,16). A associação água-espírito já aparece nos profetas (Ez 36,25-26; Jl 3,1-2; Is 32,15-18; 55,1-10), e se verifica no Batismo de Jesus, que constitui a sua investidura messiânica (Mt 3,13-16; Jo 1,29-34).
Batismo e fé: Para salvar-se é preciso ter fé (Jo 3,36; Rm 10,9-11; Mc 16,16) e ser batizado (Rm 6,3-7; Tt 3,4-5; Jo 3,5; 4,2-30). Por isso se batizavam até os mortos (1Cor 15,29). Daqui o trinômio: Pregação, Fé, Batismo (Hb 6,1-2; 10,22; Mt 28,19).
Batismo e Igreja: o batismo incorpora à Igreja (1Cor 12,12-13; 10,1-2); é o sacramento das bodas de Cristo com a Igreja (Ef 5,25-27); é um revestimento de Cristo (Gl 3,27); é um sepultar-se com ele (Rm 6,1-11; Cl 2,11-13); perdoa os pecados, concede o dom do Espírito e a participação na Ressurreição de Cristo (At 2,38; Cl 2,2; Rm 6,3-11; 1Pd 3,21). Ver “Ablução”, “Penitência”.
BEM-AVENTURANÇAS
As bem-aventuranças são um tema da literatura sapiencial. São a ciência da felicidade. Bem-aventuranças aplicadas à felicidade humana (Sl 127; 128; Eclo 25,8-11; 26,1-4).
Israel é feliz por ter a Deus como o rei (Sl 33,12-17; 144,15; Br 4,4; Dt 33,29). O rei era considerado fonte de felicidade para os seus vassalos (1Rs 10,8).
A observância da Lei torna o homem feliz (Sl 1; 119,1-2; 106,3; Is 56,2; Pr 29,18). O mesmo sucede com a meditação da sabedoria (Pr 3,13; 8,32-33; Eclo 14,2); ou com o temor de Deus (Sl 119,1-2; 128,1; Eclo 25,8-11); ou com a confiança nele (Sl 2,12; 34,9; 84,13; Pr 16,20).
Partindo da experiência de que nem o justo é, às vezes, feliz neste mundo, os profetas proclamam a bem-aventurança dos que virem os últimos tempos (Dn 12,12; Is 32,20; Eclo 48,11; Tb 13,14-16; Ml 3,12-15).
No NT, muitas bem-aventuranças declaram que a felicidade está à porta, pois chegaram os últimos tempos (Mt 13,16; Lc 1,45; 11,27-28; Jo 20,29). Neste sentido Jesus proclamou as bem-aventuranças: O Reino traz a felicidade aos cegos, aos que choram, etc. Lc 6,20-26 deu-lhes uma feição social (cf. Lc 4,18-19; 14,13s; 1Pd 3,14; 4,14) e Mateus, uma dimensão moral, a justificação (Mt 5,3-11).
As bem-aventuranças do Apocalipse conservam a sua característica escatológica (Ap 14,13; 16,15; 19,9; 20,6; 22,7.14).
BELZEBU
Significa “senhor do esterco”, isto é, dos sacrifícios oferecidos aos ídolos. É o nome do deus cananeu, chamado no AT Baal-Zebub (“senhor das moscas”), divindade da cidade filistéia de Acaron. No NT “Belzebu” era o nome que os fariseus davam ao príncipe dos demônios (Mc 3,22; Mt 12,24s).
BÊNÇÃO
Pode ser entendida como louvor do homem que bendiz a Deus por suas obras ou benefícios recebidos. Tal tipo de bênção (bendição) é freqüente nos Salmos. Bênção é também a ação de Deus em relação ao homem, enquanto objeto de seus benefícios, como a vida, a fecundidade, a paz e o bem-estar em geral (cf. Sl 131; 134). Na Bíblia a bênção pode ser pronunciada pelo homem. Assim, os sacerdotes abençoam diariamente os israelitas (cf. Nm 6,23-27 e nota); os patriarcas abençoam os filhos antes de morrer (Gn 9,26s; 27,27-29; 49; Dt 33). O homem pode ser também intermediário da bênção divina, como Abraão, escolhido para nele ser abençoada toda a humanidade (Gn 12,1-3).
No Antigo Oriente as fórmulas de bênção ou de maldição eram consideradas eficazes, no sentido de que realizavam o que diziam, sobretudo quando escritas (cf. Nm 5,23). Por isso, os códigos de leis e tratados de aliança eram concluídos com fórmulas de bênção e maldição (cf. Lv 26; Dt 28 e notas). Sua finalidade era impedir o desprezo das leis ou a violação dos tratados e promover a fiel observância dos mesmos.
A vontade de Deus é que a bênção tome o lugar da maldição (Ez 34,24-30; Zc 8,13; Is 44,3; 53,1-12). Isto se deu em Jesus: fazendo-se por nós maldito, cobriu-nos de bênçãos divinas (Gl 3,10-11; 1Pd 2,22-24; cf. Rm 8,3; 2Cor 5,21).
BERSABÉIA
O nome hebraico significa “poço dos sete” ou “poço do juramento”. É uma antiga cidade cananéia do sul da Palestina, onde se prestava culto ao Deus Eterno (Am 5,5; 8,14). O santuário foi venerado por Abraão (Gn 21,21-23), Isaac (26,23-33) e Jacó (46,1-4). Ali os filhos de Samuel foram juízes (1Sm 8,2). Bersabéia marca o extremo sul do limite de Israel (2Sm 3,10).
BETÂNIA
Subúrbio de Jerusalém, vizinho de Betfagé, na estrada romana que na encosta do monte das Oliveiras descia pelo deserto até Jericó. No vilarejo, existente até hoje (“túmulo de Lázaro”), moravam Lázaro, Marta e Maria (Lc 10,38; Jo 11,1) e Simão o Leproso (Mt 26,6); lá passou Jesus na entrada em Jerusalém (Mt 21,17; Jo 12,1-8) e na Ascensão (Lc 24,50).
Uma outra Betânia, lugar de atividade de João Batista, ficava na margem oriental do Jordão (Jo 1,28); sua localização é discutida: ou no sul do vale do rio Jordão, na altura de Jericó, ou no norte, na altura de Betsã.
BETEL
Em hebraico “casa de Deus”. Nome de um antigo santuário cananeu, antes chamado Luza. Tornou-se famoso, pois ali Abraão prestou culto a Deus (Gn 12,8; 13,3s) e Jacó teve a visão da escada que unia a terra ao céu (Gn 28,10-22; 31,13; 35,1-16). O rei Jeroboão I, após a divisão do reino de Salomão, mandou colocar em Betel a estátua de um bezerro de ouro (1Rs 12,26-30). Por isso os profetas passaram a chamar o lugar de Bet-Áven, “casa da iniqüidade” ou da nulidade, isto é, dos ídolos (cf. Os 4,15).
BÍBLIA
. Nome dado ao conjunto dos livros inspirados do AT e do NT, originariamente escritos em hebraico, aramaico e grego. O termo vem do grego tá Bíblia, “os livros”. Estes livros são o patrimônio espiritual do judaísmo e das igrejas cristãs.
A Bíblia foi escrita ao longo de mil anos, mas sua inspiração é atestada só pelo final do I século, em 2Tm 3,16s e 2Pd 1,21. Mas bem cedo se recomendava sua leitura (Ex 24,7; Dt 17,19; Js 1,8; Is 34,16; Jo 5,39; At 8,28; Rm 15,4; 2Cor 1,13; Ef 3,3s). Sendo um livro inspirado, deve ser lido com piedade e humildade (Eclo 32,15; Mt 11,15; 13,11; 1Cor 2,12-14; 2Tm 3,7.16). Sendo um livro antigo, escrito por um povo de cultura diferente da nossa, que trata dos planos de Deus a respeito dos homens, a Bíblia carece de interpretação (Sb 9,16-18; Mt 13,11; Mc 4,34; Lc 24,45; At 8,30s; 1Cor 12,30; 2Pd 1,20; 3,15s. Sendo um livro assumido pela Igreja como fonte de revelação, necessita também de sua interpretação oficial (Ml 2,7; Mt 16,18; 28,19s; Lc 10,16; Jo 14,16.26; 16,13; 20,22s; Ef 2,20; 1Tm 3,13). Ver “Revelação” e “Como ler a Bíblia com proveito”, Introdução Geral desta Bíblia.
BISPO
As Igrejas judeu-cristãs parece que eram governadas por um colégio de presbíteros ou anciãos, ao estilo das sinagogas (At 11,29-30; 14,23; 15,2.4.6.22s; 20,17; 1Pd 5,1-4; Tg 5,14). Tiago, em Jerusalém, aparece como o presbítero dum colégio de presbíteros ou anciãos (At 12,17; 15,13; 21,18; Gl 1,18-19; 2,9.12).
Nas Igrejas de origem pagã, fundadas por Paulo, aparecem os episcopoi, “epíscopos” ou “bispos”, palavra que significa “vigilantes”, “inspetores”(At 20,28; comparar 1Tm 3,2 e Tt 1,7 com 1Tm 5,17 e Tt 1,5.7). Paulo ordenou alguns dos seus discípulos como “inspetores apostólicos” (2Tm 1,6; Tt 1,5; 1Tm 4,14; 2Cor 8,15-24).
Existia a hierarquia constituída pela imposição das mãos (1Tm 4,14; 2Tm 1,6-7) e a “pneumática”, sujeita aos apóstolos (1Cor 12,4-11.28-29; 14,26-40).
Portanto, no séc. I, sob a dependência dos apóstolos, as Igrejas tiveram diversas formas de governo. No séc. II, como no-lo testemunham os documentos da Tradição, aparece o episcopado monárquico. A doutrina católica sobre o episcopado foi recentemente exposta pelo Concílio Vaticano II (LG, n. 18-19). Ver as notas de At 20,28 e 1Tm 3,2.
BITÍNIA
Região no noroeste da Ásia Menor, no litoral do mar Negro. Com o Ponto formava uma província romana. Durante a segunda viagem missionária Paulo e Timóteo pretendiam visitar esta região, mas foram impedidos pelo Espírito (At 16,6-10).
BLASFÊMIA
É o ultraje dirigido a Deus, a própria pretensão de ocupar o seu lugar, ou de falar em seu nome sem autorização (Dt 18,20-22). Na Bíblia, é condenada a blasfêmia e o blasfemador considerado digno de morte (Ex 20,7; Lv 24,13.22; Mt 27,39-44; Ap 13,6; 16,11). Pessoas justas foram acusadas de blasfêmia para serem condenadas à morte: Nabot, proprietário de um sítio cobiçado pelo rei Acab (1Rs 21,1-16); Jesus Cristo (Mc 14,60-64); Estêvão, o primeiro mártir cristão (At 7,54-60).
BOAS OBRAS
Exortação para praticá-las: Pr 21,3; Mq 6,8; Mt 3,10; 5,16; 7,17.21; Tg 2,14-22. Prêmio prometido: Pr 11,18; Eclo 35,13; Is 3,10; Mt 6,6; 16,27; 20,8; 25,14-26; Rm 2,6s; 1Cor 3,8; 15,28; 2Cor 9,6; Ap 22,12. São os “frutos do Espírito Santo”(Jo 15,1-6; Gl 5,5-25; Rm 6,20-23; Mt 7,16-20), esperados por Cristo (Mc 11,12-25; Mt 21,18-19; Lc 13,6-9). Ver “Justiça”.
BODE EXPIATÓRIO
É o macho caprino que no Dia da Expiação levava simbolicamente os pecados do povo para o deserto (Lv 16,7-20), onde segundo a crença popular morava o espírito mau de Azazel (cf. Lv 11,8 e nota: Mt 12,43).
Ao lado da idéia da necessidade de sacrifícios para expiar pecados aparece outra, na qual se dispensa o derramamento de sangue para perdoar pecados (Ex 34,6-7; Ez 18,21-23; Mt 6,12-14s; Hb 7,26-27; 1Jo 1,9; Ap 21,22. Ver “Expiação” e “Sacrifícios”.
C
CAIFÁS
Exerceu a função de Sumo Sacerdote durante a atividade de João Batista (Lc 3,2) e o processo contra Jesus (Mt 26,3.57; Jo 11,49; 18,24-28), entre 18 e 36 dC. Era o genro de Anás (18,13).
CAIM
Ver “Abel”.
CÁLICE
Ver “Eucaristia”.
CALVÁRIO
Ver “Gólgota”.
CAMINHO
Além do seu sentido normal, o termo é usado em sentido metafórico como vida do homem, sua conduta e seus hábitos. Indica também o modo de agir de Deus para com o homem (“os caminhos de Deus”), ou as normas que ele traçou para o agir humano, isto é, os mandamentos. No NT a doutrina cristã é chamada “caminho”(At 9,2; 16,17; 19,23; 22,4; 24,14).
CANÁ
Cidade da Galiléia onde teve lugar o casamento ao qual foram convidados Jesus e os apóstolos (Jo 2,2) e onde foi curado o filho do oficial da corte (4,46). Era a terra natal de Natanael (21,2). Nas bodas de Caná, Cristo se manifesta como o Esposo da Igreja, no terceiro dia após seu batismo (Jo 2,1-11; Mt 22,1-14; Jo 3,29-30). A intercessão de Maria mostra a sua participação no milagre, mas também a independência de Cristo (Jo 2,3-5; Mc 3,20-35; Lc 11,27-28; 2,49).
A Hora de Jesus é a sua glorificação. Os milagres são a antecipação desta glória. São sete os milagres, “sinais”, manifestadores de diversos aspectos do Cristo joanino (Jo 2,1-11; 4,46-50; 5,1-15; 6,1-15.16-21; 9,1-41; 11,33-44).
Jesus, a nova videira, muda em vinho a água das purificações rituais, pois é o seu sangue e a sua palavra o que purifica os homens (Jo 15,1-8; Mt 26,26-29; Is 5,1-4; 24,8-11; Mc 7,3-4; 1Jo 1,7; Ap 1,5; 7,14; 22,14).
CANANEU
Habitante de Canaã, terra prometida por Deus e conquistada pelos israelitas, situada entre o vale do rio Jordão e a costa do Mediterrâneo. No NT o termo aparece como nome de um partido político, chamado também dos zelotes. O apóstolo Simão era membro deste partido (Mc 10,4-11).
CÂNON
Lista dos livros do AT e NT inspirados por Deus e, consequentemente, normativos para a fé e vida moral dos fiéis. O cânon dos livros inspirados formou-se definitivamente já na era apostólica. Mas houve dúvidas sobre determinados livros do AT e do NT, sobretudo entre o II e o IV séculos, devido à proliferação de livros apócrifos. Tais livros são chamados deuterocanônicos, porque foram reconhecidos como canônicos pela Igreja universal num segundo momento. Os deuterocanônicos do NT são: Hebreus, 2Pedro, Judas, Tiago, 2-3João e Apocalipse; os do AT são: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc e 1-2Macabeus. Estes últimos não constam nas Bíblias editadas pelas Igrejas protestantes, que os consideram apócrifos. A Igreja Católica pronunciou-se definitivamente sobre o cânon no Concílio de Trento (1546).
CANÔNICO
Em sentido ativo, diz-se da Sagrada Escritura, enquanto é critério de verdade, norma de fé e de costumes. Em sentido passivo é o livro que está incluído no cânon ou lista oficial dos livros reconhecidos pela Igreja como inspirados. Distinguem-se livros protocanônicos sobre cuja inspiração houve desde o início consenso em toda a Igreja, e livros deuterocanônicos, de cuja inspiração em determinadas
igrejas locais duvidou-se durante algum tempo. Ver “Cânon”.
CARIDADE
Não deve ser confundida com o simples dar esmolas. No AT a caridade ao próximo se restringia sobretudo ao povo israelita (cf. Lv 19,18; Eclo 12,1-17 e notas). Ver “Amor” e “Eucaristia”.
CARISMA
Termo grego que significa um dom gratuito. É um dom especial do Espírito, dado ao cristão para o bem comum do próximo e a edificação da Igreja (Rm 12,8; 1Cor 12,4-10; Ef 4,11-13). Paulo fala longamente na 1Cor 12–15 dos carismas, cuja importância foi muito grande para a difusão do cristianismo. Menciona, entre outros, os dons da sabedoria, da cura, dos milagres, da pregação e do ensino. O mais importante de todos é a caridade.
CARMELO
. Nome de uma cidade ao sul de Judá (Js 15,55; 1Sm 25,7.40). Nome também de uma serra de 20 km de comprimento, entre o mar Mediterrâneo e a planície de Jezrael (1Rs 18,42-46). Ali residiam as primeiras comunidades de profetas sob a direção de Elias e Eliseu (1Rs 18; 2Rs 2).
CARNE-ESPÍRITO
A antropologia bíblica não conhece a dicotomia grega: corpo-alma. O homem é visto como uma unidade vivente. O termo “carne” é usado simbolicamente para indicar muitas vezes a transitoriedade e a fraqueza do ser humano, mortal e pecador (Gn 3,3; Jr 17,15; Jó 10,4; Mt 26,40s; 2Cor 12,7-10; Is 40,3-8; Jo 17,2). O próprio Verbo de Deus assumiu esta carne frágil e mortal (Jo 1,14; 1Tm 3,16).
Enquanto indica o ser humano na sua fragilidade, “carne” pode estar em oposição ao espírito (Is 31,3; Sl 56,5; 2Cr 32,8). Neste último sentido, nas epístolas de Paulo “carne” significa o homem natural, sem a graça, na sua fraqueza e tendência ao mal (Rm 9,6-13; Gl 6,12-15; Fl 3,2-5; Ef 2,11-13; Rm 8,12-15), em contraste com o espírito, força que recebe o homem purificado pelo batismo (Rm 7,14-25; 13,11-14; Ef 2,1-6; Cl 2,13-23). O cristão é aquele que não vive mais na “carne” mas no “espírito”(Rm 8,9). Por isso o cristão deve crucificar a carne com suas concupiscências (Rm 8,5-13; Gl 5,22-25; Cl 1,24-29).
O espírito, alento vital, sopro ou vento, indica a ação de Deus no ser humano (Gn 2,7; 6,17; 7,22; Rm 8,14-16; 1Cor 2,10-13; Gl 5,13-25; 6,8-10), opõe-se à carne, em sentido mais religioso que físico.
CASTIDADE
Ver “Virgindade”.
CATIVEIRO
Houve dois cativeiros ou exílios na história do povo eleito. Em 722 aC foi deportada para a Assíria a população do reino do Norte, invadido e destruído pelos assírios (2Rs 17). Em 587 aC foi deportada para a Babilônia boa parte da população do reino do Sul, quando Nabucodonosor destruiu Jerusalém (2Rs 25). Durante o cativeiro da Babilônia os exilados foram confortados pelas palavras do profeta Ezequiel e de um profeta anônimo (Is 40–55). Eles reavivaram as esperanças de um retorno à pátria, o que aconteceu com o edito de Ciro (538 aC), o rei dos persas, que conquistou a Babilônia (Esd 1,1-4). A dura provação do exílio contribuiu para uma profunda revisão das crenças e renovação espiritual de Israel. O cativeiro da Babilônia é o símbolo do homem decaído e libertado pela graça de Jesus Cristo (Hb 2,14s).
CELIBATO
É o estado de uma pessoa que se mantém solteira, aconselhado por Cristo em vista do Reino de Deus (Mc 10,28-30; Lc 18,26-30; Mt 19,27-29; 22,30) e pelo Apóstolo (1Cor 7,1.7.32-35.38-40); é possível viver neste estado com a graça de Deus: Mt 19,26; Rm 8,11.13; 1Cor 10,13; 2Cor 12,7-9).
CÉSAR
Nome do famoso general, conquistador da Gália. Mais tarde tornou-se o título usado pelos imperadores romanos (Mt 22,17-21; At 25,2-12).
CESARÉIA
Duas são as cidades com este nome na Palestina:
1. Cesaréia Marítima, construída por Herodes o Grande em homenagem a César Augusto. Tornou-se a residência dos procuradores romanos; ali morava também Cornélio (At 10,1) e o diácono Filipe (21,8).
2. Cesaréia de Filipe, construída por Herodes Filipe nas cabeceiras do rio Jordão. Perto desta cidade Pedro confessou que Jesus era o Messias esperado e Jesus prometeu fazer dele o chefe da futura Igreja (Mt 16,13-20).
CÉU
O céu pode ser tomado em sentido cosmológico: os antigos o imaginavam como firmamento sólido (Is 40,22; 44,24), apoiado sobre colunas (Jó 26,11). No firmamento há eclusas e por cima estão as águas do Oceano primitivo (Gn 7,11; Sl 148,4-6).
O céu em sentido teológico é a morada de Deus, cujo trono está acima do firmamento (Is 66,1; Ex 24,10s; Sl 104,3). Mas Deus não está circunscrito à sua morada. Ele está presente em toda a parte (1Rs 8,27). Por isso “céu” é a vida divina repartida com os eleitos na eternidade. Esta realidade religiosa é expressa com imagens: nova Jerusalém, novo templo, Sião reconstruída, montanha santa, etc. (Is 4,2-6; 25,6-9; 60; Zc 2,14; Ez 37,26-28; Sl 48,2-4).
No NT céu substitui o próprio nome de Deus (Mt 5,16-20; 6,9; cf. 1Mc 3,18 e nota).
Nos céus está Cristo, nossa esperança (Ef 1,18-22; Cl 3,1-4; Jo 14,1-3). Por isso o céu é nossa herança (Fl 3,17-21; Cl 1,5.12; 1Pd 1,4; Lc 10,20; Mt 25,31-46). Quando a recebermos, viveremos de Deus (1Jo 3,2; 2Cor 5,4-8; Ap 5,6-12; 7,2-12; 14,1-3; 21). Ver “Retribuição”.
CIRCUNCISÃO
Operação cirúrgica para remover o prepúcio, pele que cobre a glande do membro viril. A prática de caráter mágico de iniciação ao matrimônio, conhecida por muitos povos antigos, existe ainda hoje em tribos primitivas da África, América e Austrália. Os israelitas aprenderam a circuncisão dos egípcios. O uso da circuncisão não é simples prática higiênica (como a operação de fimose), mas um rito de puberdade que marca o início da idade viril. Em Israel a circuncisão se fazia já no oitavo dia do nascimento (Lc 1,59; 2,21); a partir do exílio, foi considerada um sinal da aliança (Gn 17,3-14), um rito de inserção no povo eleito (Ex 4,24-26; 1Mc 1,15 e notas).
Os profetas mostram ser mais importante do que a marca da carne a “circuncisão do coração”(Dt 10,16; 30,6; Jr 4,4; 9,25), que consiste na remoção dos obstáculos postos pelo homem em sua relação com Deus (Rm 2,29; 4,3.9.22; Cl 2,11).
CIÚME
Em sentido humano, é o zelo do homem pelos seus direitos conjugais (Pr 27,4), que pode submeter a esposa ao processo do ordálio (cf. Nm 5,11-31 e notas). Pode significar também inveja ou rivalidade (11,26-29; Sl 37,1). Em sentido religioso o termo indica o zelo pela causa de Deus (Nm 25) e, sobretudo, o amor apaixonado, exigente e exclusivista de Deus. Deus não admite concorrentes ao lado dele (Ex 20,5); propõe uma aliança exclusiva com seu povo (34,12-16), exigindo amor total e exclusivo (Dt 6,5.13-15). Deus defende com ciúme a honra de seu santo nome (Ez 36) e com zelo defende o seu povo (Is 9,6; 63,15).
CLÁUDIO
Nome do imperador romano (41-54 dC) que sucedeu a seu primo Calígula. O profeta Ágabo anunciou uma fome que devia vir para o mundo inteiro sob seu governo (At 11,28). No ano 49 dC Cláudio decretou a expulsão dos judeus de Roma, entre os quais estavam Áqüila e Priscila (18,2).
CLÉOFAS
Esposo da Maria que estava aos pés da cruz com a mãe de Jesus (Jo 19,25). Ele teria sido irmão de José, esposo de Maria, Mãe de Jesus; isto é, tio de Jesus. É distinto do outro Cléofas, um dos discípulos de Emaús (Lc 24,8).
COBRADOR DE IMPOSTOS
Ver “Publicano”.
CÓDICE
Inicialmente os livros eram escritos à mão, em rolos, isto é, em, tiras de papiro ou de pergaminho. Aos poucos surgiu uma nova técnica de fazer livros: as folhas avulsas de um documento escrito eram dobradas, colocadas uma sobre a outra e costuradas, dando origem ao “códice”. Quatro folhas, cada uma dobrada ao meio, davam um caderno de oito folhas ou dezesseis páginas. Tal técnica, já conhecida no séc. II aC, tornou-se comum nos manuscritos cristãos. São famosos os códices gregos da Bíblia, conhecidos pelos nomes Vaticano, Alexandrino e Sinaítico. Ver “Manuscrito”.
COMÉRCIO
Profissão perigosa porque leva facilmente à apropriação indébita dos frutos do trabalho alheio (Ez 26-28; Eclo 26,29; 27,1; Ap 18,15). Os abusos são denunciados e condenados (Dt 23,19; Pr 11,26; 20,10.23; Ez 18,18; Am 2,6s; 5,11s; 8,5s). Como proceder: Lv 19,35s; 25,14; Dt 23,13-16; Pr 11,1; 1Cor 7,30).
COMUNHÃO
Ver “Eucaristia”, “Participação”.
CONFESSAR
Significa professar a fé em Cristo (Rm 10,9; Fl 2,11), louvar a Deus pelas suas maravilhas (Lc 1,46-54.68-79; Mt 11,25-